Camaradas, depois do nosso artigo 6 Palavras começadas por “A” que ouvimos em Trás-Os-Montes, venho trazer-vos o segundo lote de palavras. Usando a ordem alfabética – ainda me lembro de aprender as primeiras letras na modesta escolinha primária, onde nos intervalos do inverno íamos arrumar a lenha, e depois ficávamos com farpas dos cavacos nas mãos, mas a canalha já estava habituada a andar toda esmoucada. Bem, voltando ao que estava a dizer, esta nossa sequência de artigos sobre palavras, segue a ordem alfabética. Portanto, vamos à letra B.
BIQUEIRA
Faz parte da construção de uma pessoa ser biqueira. O contrário é aceitar tudo de bom agrado sem ouvir a mãe e as tias a dizer “esta rapariga/rapaz não come nada, não tem cu para as calças”.
Ser biqueiro é colocar parte da comida na borda do prato porque não é coisa para o seu dente. É não comer parte do bife porque tem nervos.
BOTAR CORPO
É usual ouvirmos isto em tom de gozo, principalmente a quem já tem um lombo bem largo. Mas como os transmontanos só são felizes a comer, botar corpo não é problema – que é o mesmo que dizer “estás a crescer”.
BÔ
Nas nossas cabeças transmontanas faz todo o sentido dizer, por exemplo “Ah, tu queres ir à segurança social às 9 e estar despachado às 9:30? Bô!”
Entenderam?
É como dizer “isso é que era bom”, ou como coloquei na imagem “isso é que era do belo” (ouço isto desde pequena, nem sei se é assim que se escreve).
BENTAS
Seria ventas mas ninguém diz assim, portanto, não vou escrever o que não é. Vou lançar várias frases que incluem a palavra:
“Veio cá encher as bentas e nem deu uma mão a arrumar as coisas”
“Aquele ontem armou-se em fino e levou nas bentas”
“Estás com umas bentas de quem precisa de um copo”. Um clássico: “fo*er as bentas”.
As bentas, claro está, são a cara.
BOTA CÁ
E como explicar? Em vez de dizermos “dá cá”, usamos o bota. Bota, vem se botar, vou seja “deitar”. Isto pode complicar um pouco quem não tem boca transmontana, mas
com treino as coisas vão lá.
BULHA
Bulha é uma palavra forte, robusta. Andar à bulha vale tudo: pontapés, murros, puxões de cabelos. Normalmente a bulha é proporcionada pela canalha ou pelos cães e gatos.
Quem nunca andou à bulha na escola, não teve infância transmontana.
BOABAIELA
Quando ouço esta expressão, imagino sempre uma mãe transmontana a mandar vir com fulano tal que anda sempre no fado. “Oh lá vai ele/ela “naboabaiela”. Escrevi tudo junto porque sempre imaginei isto tudo junto, desde que me lembro de ser gente. Nunca é bom sinal dizer “na boa vai ela” – num português mais compreensível. É como chamar “sandeiro” a alguém. É uma espécie de “rinchedo” para gente adulta.
Ficamos por aqui.
Aproveitem para dar uma vista de olhos às “Expressões das Mães Transmontanas“.
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