Venho falar-vos de uma espécie transmontana, tantas vezes auto definida como “sobra tudo para mim”: as mães transmontanas.
A mãe transmontana pergunta várias vezes se já comemos, pára-lhe o coração se saímos de casa sem casaco porque “ESTÁ FRIO E DEPOIS EU É QUE TE ATURO AS GRIPES” e fuzila-nos com os olhos se lhe dizemos que não vamos levar a sopa que ela fez no domingo à tarde para o resto da semana. Não se atrevam.
A mãe transmontana não esquece os pequenos pormenores da vida, tal como não esquece aquele pirex que levámos para casa do amigo e que ainda não voltou. E sabe quantos taparueres tem, as cores, os riscos, mesmo que se passem anos sem os ver.
A mãe transmontana sabe quantos sacos de pinhas são precisos para o inverno. Tal como sabe qual é o chinelo mais duro para correr atrás do filho.
A mãe transmontana só chama uma vez para a mesa, à segunda já vai acompanhada pela vassoura, vassoura essa que também usa para afastar o gato do balde com o bacalhau demolhado.
Tem aquele cão pequeno e castanho (que se chama Cookie ou Pantufa) com a cauda enrolada, que a acompanha à horta, à vizinha, ao peixeiro.
Tem várias batas aos quadrados e nunca alguma está totalmente limpa.
Gosta de beber um copo de vinho a meio da tarde, na sua própria companhia.
Ri-se dos seus próprios tombos.
Há sempre um alfinete e uma moeda plástica dos carrinhos do continente no bolso.
Tanto se encontra na delicadeza da confeção de um pão-de-ló como a rachar lenha no pátio de casa.
Gosta de um bom branco do douro, como gosta de um chá de cidreira para os nervos, que normalmente toma às 4 da tarde de domingo em casa das cunhadas.
De vez em quando lá aparece com uma unha negra porque quis ser carpinteira. É a única pintura que usa regularmente.
Faz muito arroz de feijão e de tomate e nunca compra rissóis ou croquetes porque é ela que sabe fazer como deve ser.
E os melhores bolos de bacalhau vêm das suas mãos, juntamente com as mãos das avós transmontanas, outras belas mães.
– A todas as mães transmontanas e a todas as que não são transmontanas, esta homenagem é para vós.
(ouvido com “A Bela Portuguesa” do Marante, como música de fundo).

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